Eloy Jonas Allegretti – Tucano – 1961/1970
abril/2020
Praticamente desde a sua
fundação, os Tupinambás, tiveram como sede o porão de um prédio de dois
pavimentos situado na Avenida Maurício Cardoso, tendo em frente um ponto de táxi no vão central da avenida, e
ao lado direito de quem olha para a avenida, o pátio de entrada da majestosa
Igreja Matriz São José. Este pátio pode-se dizer era o “Largo da Matriz”.
No andar térreo deste prédio,
no tempo em que estou situando este texto ano de 1969, funcionava a Livraria Lírio. No pavimento
acima funcionava a Rádio Difusão Sul Rio-grandense.
Pois bem, este porão tinha
cerca de 2,5 metros de profundidade em relação ao nível da avenida e era praticamente
de forma quadrada medindo uns 20 por 20 metros. Era circundado por uma sólida parede de blocos
de pedras basalto regulares talhadas com esmero no formato de um cubo de 40 cm
e encaixados umas ao lado das outras. No
canto da parede que dava para a avenida, logo acima da última carreira dos
blocos de pedra havia uma pequena janela basculante de ferro e vidro para a
entrada de ar e claridade, e logo abaixo desta janela constava uma belíssima
pintura feita por Peri Bueno destacando um escoteiro em forma de marcha
empunhando uma bandeira. Mas registre-se que o porão contava com
energia elétrica e era bem iluminado. O
chão era de lajotas encaixadas e o teto era o assoalho da livraria.
Estes 400 m² eram ocupados em
parte para a guarda de alguns materiais pertencentes à Paroquia São José, uma
sala para nossa intendência (guarda da carrocinha, barracas, e demais utensílios de acampamento, kit de
primeiros socorros, cerca de uns 500 metros de corda para cordões de isolamento,
etc), sala para uso da Alcateia de
Lobinhos, uma sala - onde se situava a
janela basculante, para as reuniões dos Escoteiros na qual eram dispostos os “Cantos de Patrulha” – 4 patrulhas: Águia;
Cão; Búfalo; e Morcego, mais tarde com a
criação da Tropa Senior uma sala para uso destes, com as patrulhas Givaros e
Cruzeiro do Sul fundadoras da tropa e
mais um espaço na entrada, vindo pelos fundos do porão que dava acesso às dependências ora citadas.
No lado externo do porão antes
da porta de entrada situada nos fundos havia
um sanitário e a seguir um enorme pátio calçado com tijolos que
utilizávamos para os mais variados jogos e atividades: cabo de guerra; escalpo;
lagartixa; saltos em distancia e altura; concurso de nós; orientação instintiva;
prática de sinais de semáfora com envio e recebimento de mensagens; gincanas; preparação e condução de maca; prática de ordem unida para os desfiles de 7
de setembro; treinamento na formação da pirâmide humana; mastro para
hasteamento da bandeira no modelo triangular de uso praticamente inovador pelos
escoteiros. Em muitos sábados à noite
também fazíamos o Fogo do Conselho com as atividades pertinentes. Nestas
oportunidades também realizávamos a cerimonia da Promessa Escoteira com o
recebimento do lenço e quando só restavam as brasas, os que haviam feito a
promessa pulavam o braseiro e recebiam os apelidos correspondentes. Este foi o meu caso num sábado no final de
1961, recebendo o apelido de Tucano. (tive
como madrinha que me colocou o lenço a bandeirante Leiza Santos).
Ainda após o pátio de tijolos,
em direção ao portão que dava acesso a Av. Presidente Vargas havia um grande
pátio gramado onde praticávamos concurso de armação de barraca por patrulha e
também individual, ou seja armar a barraca sozinho no menor tempo possível.
Por este portão é que saíamos
para os acampamentos puxando a carrocinha. Este portão também dava acesso à sede
da tropa de Bandeirantes Princesa Isabel
que ficava exatamente embaixo do altar da Igreja Matriz São José, local
conhecido como “ cripta” .
Perdoem-me o grau de
detalhamento deste aprazível local, situado na parte mais central da cidade. No entanto, era propriedade da Paróquia São
José que fazia parte da diocese de Passo Fundo.
O Fato é que a paróquia seria
elevada a categoria de diocese. Erechim seria sede de novo bispado e a Igreja
Matriz seria demolida para dar lugar a uma nova e moderna Catedral.
Em razão disso devíamos
desocupar a sede pois o local seria utilizado para as necessidades de demolição
e construção. Recebemos do Padre Atalibio Lize então pároco da igreja matriz um
prazo para a desocupação da sede e aí
começou nossa preocupação minha e do Mario Rossini. Para onde Ir? Embora soubéssemos com bastante
antecedência da demolição da imponente igreja, aliás, uma demolição polêmica, acreditávamos
que não seríamos afetados com a necessidade de desocupar o local, pois o prédio
estava situado ao largo da Catedral onde esta seria erguida. Sendo fato consumado que tínhamos que nos
mudar para algum lugar, cheguei a cogitar um pleito para a construção de uma
sede numa clareira no “Mato da Comissão” - designação atual Parque Municipal Longines
Malinowski. Imaginava eu que ali seria o
local ideal para nossa sede. Porém, a depender da prefeitura isso seria
impossível por várias razões. Também cheguei a conclusão que o local não seria
o ideal como inicialmente havia imaginado pois seria necessário levar energia elétrica,
agua encanada, etc., além do que não seria
seguro principalmente à noite durante os dias de semana em que seriam realizadas
as “reuniões de patrulha”. E num local mais próximo da lateral do parque
existia um pequeno zoológico com algumas antas, pacas e outros animais silvestres cuidado por um caseiro que vendo
nossas visitas não ficou nada contente e
satisfeito pela tentativa de invasão “de sua propriedade”. Não seria uma boa
vizinhança.
Precisávamos urgente de um
local para nossa sede. Não teríamos dificuldade em alugar algum barracão e
fazer as adaptações necessárias, mas não tínhamos receita financeira para arcar
com o aluguel, além do que sempre estaríamos sujeitos a mudanças de local.
Fácil imaginar que a situação
era bastante preocupante. Foi então, acho que num domingo à tarde eu estava na
casa do chefe Mário Rossini (Coati) trocando ideias a respeito do que iriamos
fazer mesmo que fosse de forma provisória para liberar o quanto antes o “nosso”
porão, quando o pai do Mário, sr. Mario Rossini nos deu a ideia: porque não
pleitear junto ao prefeito a cessão de uma sala embaixo do Viaduto Rubem Berta? A ideia foi uma luz no túnel. Embaixo do
viaduto haviam duas salas que estavam vazias e bem que podíamos ocupar uma
delas para a sede dos Tupinambás! Começamos a concatenar como abordar o assunto
perante a prefeitura, visto que o viaduto havia sido construído pela
municipalidade e inaugurado há pouco tempo, cuja construção teve inIcio em 1966,
na gestão do Prefeito Eduardo Pinto que
teve dois filhos escoteiros. O nome foi uma homenagem a Rubem Berta,
primeiro funcionário da VARIG cuja fundação foi no final da década de 1930 e
depois foi seu presidente por várias gestões e falecido de ataque cardíaco em
dezembro de 1966 quando o viaduto ainda estava em construção. Era uma obra de
vital importância para o desenvolvimento urbano visto que a linha férrea que
cruzava a Av. Maurício Cardoso trazia sérios riscos e já havia sido a causa de
vários acidentes. Naquela época, o transito de trens era muito, mas muito frequente,
tanto trens de carga como de passageiros que demandavam para os mais variados
destinos.
Pois bem, o projeto do viaduto
contemplou a construção das citadas salas e que eu saiba, sem que se desse alguma
destinação prévia, porém de feliz concepção.
Convictos que teríamos sucesso
em ter uma das salas como sede definitiva para os Tupinambás, Mario e eu
definimos uma estratégia para a abordagem do assunto a qual deveria ser sem
fazer alarde, pois nossa pretensão poderia desencadear o interesse de outras
entidades e poderia haver disputas pelo
local .
O Mário tinha grande amizade e
grau de parentesco com Geder Carraro, um dos proprietários do jornal A Voz da Serra e fez contatos
solicitando o apoio dele caso necessário. Tudo certo. Teríamos total apoio. Também
articulamos contatos para obter o apoio de outras lideranças. Tal como pais de
escoteiros sr. Romulo Monteiro delegado regional de policia, , tenente Bica
comandante do destacamento da Brigada Militar de Erechim entre outros, Enfim alinhavamos bem a nossa pretensão e acabamos
por conseguir a cessão da maior das
salas tendo como chão piso de cerâmica e teto a pista de rodagem do viaduto. Sala
grande com vão livre sem colunas no interior e com um pé direito alto que
poderia ser construído um mezanino para melhor aproveitamento do local. A
mudança foi rápida e não lembro se ainda na gestão do Prefeito Eduardo Pinto -
que teve dois filhos escoteiros, ou na de seu sucessor Irani Jaime Farina.
Ocorre que transcorrido mais
ou menos 1 ou 2 meses após a nossa mudança, recebemos a notícia de que
deveríamos ceder uma parte para AEE-Associação Erechinense de Estudantes,
significando que a sala deveria ser dividida. Não tínhamos como deixar de
acatar esta determinação e então fizemos uma parede divisória de madeira, com
tábuas tipo macho e fêmea transformando o local em duas salas. Mesmo assim
ficamos com cerca de 2/3 do espaço e a AEE com o restante. Registre-se que até então a AEE ocupava uma
pequena sala num prédio da Rua Alemanha que também abrigava as instalações da
Rádio Erechim.
Junto com um tio meu que era
carpinteiro/moveleiro, numa noite fizemos a divisória com um alpendre e respectivas
portas de entrada com fechadura para cada sala. A porta de aço tipo cortina de
enrolar e girava para cima, compondo a parede da fachada externa da sala e
assim se manteve como entrada comum para os dois ambientes.
Entretanto, a AEE permaneceu ali
por pouco tempo e acabou se mudando, de maneira que voltamos a ficar sós no
local. Ótimo!
Finalizando, quero dizer que
além da caixa 474 que os tupinambás tinham como endereço postal no prédio dos
correios, agora havia um novo endereço:
GRUPO ESCOTEIRO TUPINAMBÁS – 44°
Avenida Maurício Cardoso
Viaduto Rubem Berta
Erechim-RS
(Em tempo: Este relato teve importantes detalhes
lembrados e acrescentados pelo meu irmão também escoteiro Rogério – Rena Allegretti)
|
Crédito foto: Jornal Bom Dia |
|
Sede do Tupinambás no Viaduto Rubem Berta em 2020 Crédito foto: Paulo Hubner |
|
Sede do Tupinambás no Viaduto Rubem Berta em 2020 Crédito foto: Paulo Hubner |
|
Sede do Tupinambás no Viaduto Rubem Berta em 2020 Crédito foto: Paulo Hubner |
|
Sede do Tupinambás no Viaduto Rubem Berta em 2020 Crédito foto: Paulo Hubner |
|
Sede do Tupinambás no Viaduto Rubem Berta em 2020 Crédito foto: Paulo Hubner |